“No Evangelho de Fariseus cada um escolhe os seus e se inflamam na bolha do sistema. Enquanto isso no Marajó, o João desparaceu esperando os ceifeiros da grande seara”…
Esse é um dos trechos da música Evangelho de Fariseus, da cantora gospel paraense Aymeê Rocha, e que, com voz doce e melodiosa, aproveitou a apresentação para denunciar a degradante situação das crianças na Ilha de Marajó, que se prostituem por R$ 5,00 tamanha a condição de fome e miséria de suas famílias. As palavras de Aymeê tocaram os corações dos internautas e logo o caso ganhou repercussão nacional nas redes sociais, trazendo à tona uma das grandes feridas expostas do Brasil: a prostituição, os abusos sexuais e trabalho escravo infantis, especialmente nas regiões mais pobres do país.
Marajó é a maior ilha costeira fluviomarítima do planeta (distante a cerca de três horas e meia de balsa de Belém). Só se chega lá por meio de embarcações e muitas famílias vivem em estado de extrema pobreza, embora o estado seja considerado rico -grande exportador de minério, sementes e frutas.
Nada do que a cantora disse em sua música, ou após a sua apresentação, soa como novidade. Muito já foi mostrado, investigado, denunciado em reportagens da própria mídia, como um documentário feito pela Record TV, em 2017.
Essas reportagens trazem imagens fortes, revelando que a fome leva crianças a se prostituírem em troca de comida, dinheiro e até mesmo de óleo diesel, considerado na região como “ouro negro”.
O preço é tão alto que muitas famílias precisam escolher entre comprar diesel ou comida Assim, as crianças – incentivadas por seus próprios pais – viram mercadoria de troca.
Essa situação degradante foi alvo de uma investigação (CPI) da Câmara dos Deputados, entre 2006 e 2009, que trouxe números impactantes:
100 mil crianças já haviam sido vítimas da prostituição infantil em Marajó, sendo que 18% delas tinham entre 6 e 10 anos de idade.
A CPI revelou ainda o envolvimento de políticos locais nos casos que atuavam como aliciadores, levando meninas para prostituição em Belém e na Guiana Francesa.
E o que as autoridades fizeram? Absolutamente nada. E quem tentou levar a denúncia adiante foi massacrado e alvo de ações judiciais.
É exatamente assim que o sistema age quando o assunto é pedofilia e prostituição infantil -e não apenas no Brasil.
Porém, as pessoas não podem mais continuar fechando os olhos para as atrocidades que estão cometendo contra as crianças do planeta.
Portanto, se você assistiu e se impactou com o filme Sound of Freedom, que aborda o tráfico infantil, chegou a hora de lutar contra esse enredo, igualmente real e cruel, que se desenrola no nosso quintal.
Como nos diz sempre Jesus/Sananda:
“As crianças de Deus não estão à venda.”